Dr. Paulo Pittelli - Cirurgião do Aparelho Digestivo

Doenças e Tratamentos

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Gastrite

Gastrite é uma doença que se caracteriza pelo processo inflamatório da camada interna de revestimento do estômago que é chamada de mucosa gástrica. Na gastrite, as células brancas do sangue migram para a parede do estômago como resposta a uma agressão e é isso que se vê ao microscópio quando se faz uma biópsia do estômago de um paciente com gastrite.

O termo gastrite não quer dizer úlcera ou câncer, é uma simples inflamação da mucosa gástrica, é muito comum e pode ter várias causas. Quando a inflamação atinge o duodeno, chamamos de duodenite ou bulboduodenite e o termo pangastrite refere-se à inflamação de todo o estômago.

 

As principais causas de gastrite são:

  • Infecção pelo Helicobacter pylori. Este é o nome dado a uma bactéria que está presente no estômago de quase 80% da população dos países em desenvolvimento. Ela é adquirida na infância e geralmente permanece aí pelo resto da vida. Em algumas situações esta bactéria pode causar inflamação aguda e crônica, úlcera e até câncer de estômago.
  • Além do Helicobacter pylori, há gastrites causadas por outras bactérias (Salmonellas e Shigellas), por toxinas bacterianas (Staphylococcus, E. coli) ou por ambos (C. perfringens). Há também os fungos (candidíase, histoplasmose), alguns parasitas (criptosporidíase, estrongiloidíase, giardíase) e infecções virais (influenza, HIV, hérpes, vírus da hepatite e citomegalovírus).
  • Aspirina, antiinflamatórios e corticóides são drogas que causam gastrite promovendo  redução da proteção gástrica, pois inibem a produção de muco (uma substância que funciona como uma barreira protegendo a mucosa). Normalmente o consumo destas drogas por um curto período não causa problemas, porém, quando o uso é prolongado, pode ocorrer desde gastrite até algo mais sério como a úlcera gástrica ou duodenal. O uso de álcool pode levar à gastrite quando consumido em grandes quantidades ou por longos períodos.
  • O sistema imune produz anticorpos e outras proteínas que lutam contra infecções para manter o corpo saudável. Em algumas doenças o nosso organismo produz anticorpos contra nossos próprios órgãos, como se eles fossem proteínas estranhas ou uma infecção. Estes anticorpos podem causar danos importantes, chegando até mesmo a destruir o órgão acometido. Doenças como lúpus, hipotireoidismo, artrite reumatóide e alguns tipos de diabetes são exemplos disso. Existe um tipo de gastrite, chamada de gastrite auto-imune, onde os anticorpos levam à destruição de células da parede do estômago. Isto causa inflamação crônica que pode resultar em uma condição também chamada de Anemia Perniciosa. A anemia ocorre pela dificuldade em absorver vitamina B12, que por sua vez, acontece pela falta do chamado fator intrínseco, que é destruído na inflamação crônica. Com o passar dos anos é possível a ocorrência de câncer de estômago.
  • Há também a gastrite hipertrófica, onde as pregas do estômago aumentam com a inflamação. Não se sabe muito bem porque isso ocorre. Uma variação deste tipo de gastrite é chamada de doença de Menetriér, na qual as pregas gástricas se tornam gigantes e há perda de proteínas.
  • Por fim, a gastrite aguda também pode ocorrer em pacientes que sofreram hipovolemia (choque), em politraumatizados e em grandes queimados.

 

Quais são os sintomas?

A gastrite pode ser completamente assintomática, ou seja, não produzir qualquer sintoma, mas pode ocorrer dor ou queimação no abdome superior, náuseas, vômitos, eructações (arrotos) e sensação de má digestão. As queixas podem piorar com o jejum prolongado, pode haver diminuição do apetite e sensação de empachamento ou saciedade precoce (qualquer coisa que comemos nos dá a sensação de já estarmos cheios). Se a dor é muito severa podemos estar diante de uma úlcera. Há casos onde há sangramento pelo estômago e os sinais e sintomas podem ser taquicardia, extremidades frias, queda da pressão arterial com tonturas e até lipotímias (desmaios).

 

Como se faz o diagnóstico?

Na prática, o diagnóstico de gastrite é clínico ou feito através de endoscopia, quando precisamos descartar algum diagnóstico diferencial (descartar outras doenças).

A endoscopia é um exame onde, sob sedação, um tubo flexível é passado pela boca do paciente e o médico pode, através de uma câmera, observar seu estômago internamente. Podem ser feitas fotos e biópsias, de onde são obtidos fragmentos da mucosa para análise ao microscópio e para pesquisa do H. pylori. O único meio para se fazer o diagnóstico preciso de gastrite é através da endoscopia com biópsia da mucosa gástrica. Isto porque, por definição, gastrite é um diagnóstico histológico (alteração a nível celular – vista ao microscópio). Assim, quando há o diagnóstico de gastrite numa endoscopia sem biópsia da mucosa, o endoscopista pode errar em muitos casos. Estudos mostram que pacientes com sintomas típicos de gastrite e com endoscopia normal têm até 40% de alterações histológicas, ou seja, esses pacientes têm gastrite. Da mesma forma, em muitos casos o patologista não detecta alterações de mucosa em indivíduos com diagnóstico endoscópico de gastrite.

 

Qual é o tratamento?

O tratamento da gastrite depende da sua causa. Na maioria dos casos de gastrite a redução da secreção de ácido pode ser feita através de medicamentos como os antagonistas de receptores H2 (ranitidina, famotidina) e os inibidores da bomba de prótons (omeprazol, lansoprazol, pantoprazol e esomeprazol). Eventualmente usa-se sucralfato, que atua na barreira mucosa e pro-cinéticos (domperidona, metoclopramida e bromoprida) para acelerar o esvaziamento gástrico. Durante o uso do medicamento, é fundamental fazer uma dieta retirando os alimentos que são irritantes gástricos.

Na gastrite induzida por medicamentos e álcool, apenas a suspensão do agente agressor pode levar a resolução do quadro. O tratamento da infecção pelo H. pylori não é feito em todos os casos, sendo indicado geralmente nas gastrites erosivas, úlceras gástricas e duodenais e no linfoma gástrico.

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