Dr. Paulo Pittelli - Cirurgião do Aparelho Digestivo

Doenças e Tratamentos

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Úlcera Gástrica e Úlcera Duodenal

Úlceras são feridas na camada de proteção interna (mucosa) do estômago e do duodeno. O termo úlcera péptica refere-se a todas as úlceras que acontecem nas regiões do aparelho digestivo banhadas pelo suco gástrico. Assim, as úlceras do final do esôfago, do estômago e do duodeno são chamadas de úlceras pépticas. Nosso objetivo aqui é fazer um breve resumo sobre as úlceras gástricas e duodenais. O duodeno é a primeira parte do intestino que se segue ao estômago. Estas duas regiões do aparelho digestivo estão em contato constante com o suco gástrico, que é composto basicamente por enzimas digestivas (pepsina principalmente), ácido clorídrico e muco.

Quais são as causas das úlceras?

Antigamente acreditava-se que as úlceras eram formadas porque o ácido clorídrico em excesso “corroia” a mucosa gástrica e duodenal e produzia as feridas (úlceras). O ácido clorídrico é na verdade apenas um dos fatores relacionados à gênese da úlcera. Os anti-inflamatórios, a pepsina, o Helicobacter pylori e o ácido clorídrico são considerados os grandes fatores agressores da barreira mucosa. Há também os fatores protetores da mucosa que são o muco que reveste a mucosa, o bicarbonato, as prostaglandinas e o fluxo sanguíneo para a mucosa. Hoje se sabe que a úlcera se forma pelo desequilíbrio entre esses fatores protetores e agressores.

O H. pylori está relacionado a um grande número de casos de úlceras, apesar de a maioria dos pacientes que está infectado com esta bactéria não desenvolvê-las. Assim, é importante entendermos que não é por que você está infectado pelo H. pylori que terá uma úlcera.

 

 

O uso crônico de anti-inflamatórios causa a diminuição da ação das prostaglandinas e conseqüentemente da barreira mucosa. Pacientes que apresentam hipercalcemia (aumento do cálcio no sangue) também podem desenvolver úlceras pela mesma razão (estimulação da gastrina). Muitos estudos têm mostrado resultados conflitantes sobre o cigarro na gênese ulcerosa, mas parece haver uma associação importante entre o cigarro, estresse e fatores genéticos. Há também casos mais raros como o do gastrinoma, que é um tumor produtor de gastrina (substância que estimula a produção de ácido clorídrico). A produção de ácido fica, então, muito elevada e o paciente desenvolve úlceras intratáveis e de localizações atípicas. Quanto ao álcool e alimentos, parece não haver relação entre os mesmos e a formação de úlceras pépticas.

 

Quais são os sintomas das úlceras pépticas?

A maioria dos pacientes apresenta desconforto abdominal, dor e náuseas. A dor é geralmente sentida no epigástrio, região que fica entre o esterno e o umbigo e que chamamos de “boca do estômago”. O paciente pode sentir queimação ou “dor de fome”, que acontece entre as refeições e, às vezes, acorda o paciente à noite.  Tipicamente, na úlcera duodenal a dor acontece algumas horas após a alimentação e durante a noite e melhora com a ingestão de alimentos e na úlcera gástrica, a dor acontece quando o paciente se alimenta. Empachamento pós-prandial, digestão difícil, azia e eructações freqüentes são queixas comuns.

Em alguns pacientes a úlcera é completamente assintomática e o paciente descobre através de uma de suas complicações. As principais complicações das úlceras pépticas são: hemorragia, quando acontece a erosão de um vaso sanguíneo na base da úlcera; perfuração, quando a úlcera é tão profunda que atinge toda a espessura da parede do órgão e obstrução, quando a cicatriz da úlcera leva ao estreitamento da luz do órgão e causa dificuldade e até impossibilidade de progressão dos alimentos.

 

Como são diagnosticadas?

O diagnóstico das úlceras pépticas é feito através da história clínica e da endoscopia.

Na endoscopia é introduzido um tubo flexível pela boca do paciente que recebe uma sedação leve. Este aparelho contém uma câmera que permite visualizar o esôfago, o estômago e o duodeno internamente. Pode-se identificar a úlcera quando esta está presente e realizar biópsias. A biópsia é importante para afastar os casos de câncer gástrico, que são um importante diagnóstico diferencial das úlceras gástricas e para a pesquisa do H. pylori. Existem alguns exames que utilizamos menos freqüentemente como o teste da gastrina, para afastar gastrinoma e o raio X contrastado do esôfago, estômago e duodeno, que praticamente foi substituído pela endoscopia por suas limitações como a impossibilidade de realização de biópsias, menor sensibilidade no diagnóstico de lesões pequenas e na diferenciação das lesões benignas das malignas.

 

 

Qual o tratamento?

O tratamento se baseia na mudança dos hábitos alimentares e de vida, erradicação do Helicobacter pylori e fazer uso de uma medicação para diminuir a produção de ácido clorídrico.

A dieta deve ser feita por um período mínimo de quatro semanas e o paciente deve evitar alguns alimentos e bebidas como álcool, café, chá, refrigerantes, sucos e frutas cítricas, hortelã, mostarda, vinagre, alimentos gordurosos, frituras, pimentas e molhos vermelhos. As refeições devem ser feitas em pequenas quantidades e várias vezes ao dia. Evite ficar muito tempo de jejum. Evite fumar! Pare de usar anti-inflamatórios e aspirina.

O tratamento do H. pylori geralmente envolve o uso de dois ou três antibióticos (Claritromicina, Amoxacilina, Tetraciclina e Metronidazol) por sete a 14 dias, associado ao uso de um inibidor de bomba protônica, que diminui muito a secreção de ácido gástrico (Omeprazol, Pantoprazol, Lanzoprazol, Rabeprazol e Esomeprazol), por seis a oito semanas.

O uso de Sulcralfato e análogos da prostaglandina E1 (Misoprostol) também são úteis agindo no restabelecimento da barreira mucosa.

Se você tem sintomas sugestivos de doença ulcerosa ou já teve este diagnóstico antes, procure um especialista para evitar as complicações.