Doenças e Tratamentos
Você esta lendo: Pancreatite
Você esta lendo: Pancreatite
Pancreatite é a doença causada pela inflamação do pâncreas, uma glândula do aparelho digestivo que desenvolve um importante papel no processo de digestão dos alimentos. A doença acontece quando as enzimas produzidas pelo pâncreas se tornam ativas ainda no seu interior. Em condições normais as enzimas pancreáticas só se tornam ativas quando saem do pâncreas e atingem o duodeno. A ativação destas enzimas no interior do pâncreas causa a destruição dos tecidos do próprio órgão.
O pâncreas fica localizado atrás do estômago, entre o duodeno e o baço. Suas principais funções são:
Doença Biliar (cálculos): é responsável pela imensa maioria dos casos de pancreatite quando afastamos a ingestão abusiva de álcool; Os cálculos biliares formados na vesícula podem migrar através dos ductos biliares e atingir a região da papila duodenal que é também o lugar onde desemboca o ducto pancreático. A passagem dos cálculos por esta região pode promover a ativação das enzimas pancreáticas e desenvolver a pancreatite. O tamanho dos cálculos biliares é inversamente proporcional ao desenvolvimento da pancreatite. Assim, os cálculos pequenos são mais propensos a migrar através dos ductos biliares e causar a pancreatite;
Álcool: o abuso da ingestão de álcool em grandes quantidades por longos períodos também é uma das principais causas de pancreatite. Eventualmente a doença acontece nos bebedores de final de semana. Ainda não se compreendeu exatamente o mecanismo do desencadeamento da doença. Acredita-se que pode ser por ativação direta das enzimas pancreáticas ou pela formação de pequenos “plugs” de proteínas (cálculos) que se formam no interior dos pequenos ductos, obstruindo-os;
A terceira causa mais comum é a manipulação das vias biliares durante procedimentos médicos. Isto acontece durante procedimentos cirúrgicos nas vias biliares e na realização de colangiopancreatografia endoscópica retrógrada, também chamada de CPRE, que é a endoscopia para a retirada de cálculos que já estão nos ductos biliares (coledocolitíase);
As causas que descrevo abaixo são muito menos comuns e cada uma delas responde por menos de 1% dos casos:
O principal sintoma da pancreatite é a dor abdominal. A dor geralmente é sentida no epigástrio (parte superior do abdome que comumente chamamos de boca do estômago) e pode ter irradiação para as costas. Tem intensidade muito variável, mas em geral é de forte intensidade e de início súbito e pode durar vários dias. A dor pode piorar com a ingestão de alimentos e melhorar curvando-se em posição fetal.
Pode haver náuseas, vômitos, febre e distensão abdominal. O paciente pode ter o pulso rápido e queda da pressão arterial. Mais raramente pode apresentar icterícia (coloração amarelada dos olhos e da pele). Na pancreatite crônica a dor pode ser intermitente e estar associada à diarréia ou gordura nas fezes.
O diagnóstico da pancreatite é baseado na história clínica, onde se pesquisa os sintomas e sinais descritos acima e alguns antecedentes que podem sugerir o diagnóstico, como ingestão abusiva de álcool, por exemplo.
Além disso, existem exames como a dosagem de amilase e lípase no sangue, que fazem o diagnóstico quando os valores estão acima de três vezes o normal. A amilase aumenta logo no início do quadro e seus níveis diminuem rapidamente (3-5 dias) e a lípase demora mais tempo para ter seus níveis aumentados, mas continua com o valor alterado por mais tempo.
Existem vários outros exames que normalmente podem ser pedidos, mas que são menos específicos e funcionam apenas ajudando no diagnóstico. Entre esses exames temos o número de células brancas no sangue, as enzimas hepáticas e bilirrubinas, dosagem de glicose e dos níveis de cálcio no sangue. Os níveis de tripsinogênio na urina também podem ajudar. Nos casos de suspeita de pancreatite crônica pode-se pedir a dosagem de gordura nas fezes.
Exames de imagem podem ser solicitados:
O tratamento da depende basicamente da gravidade de cada caso.
Na pancreatite leve o tratamento é relativamente tranqüilo, apesar de haver indicação da internação hospitalar. O jejum é prescrito por alguns dias para que o pâncreas não seja estimulado com a presença dos alimentos no duodeno. O paciente só é realimentado quando a dor desaparece e o quadro clínico melhora. Devem ser feitos a reposição de líquido e eletrólitos por veia periférica e a administração de analgésicos e antieméticos para o alívio das dores e dos vômitos, respectivamente. Antibióticos não são necessários na pancreatite leve. Se a ultrassonografia mostrar cálculos na vesícula ou barro biliar, a colecistectomia (retirada cirúrgica da vesícula) deve ser realizada na mesma internação.
Nas pancreatites graves a história é um pouco diferente. O paciente é mantido em unidade de tratamento intensivo, com monitorização constante dos seus sinais vitais e atenção rigorosa na tentativa de diminuir a inflamação, evitar infecções e identificar as complicações que podem ser graves. Os pacientes são mantidos em jejum oral, mas pode-se introduzir uma sonda pelo nariz até o duodeno (sonda nasoenteral) e alimentar o paciente através dela. Como a sonda é colocada após a segunda porção duodenal, não há os efeitos da estimulação do pâncreas como acontece na alimentação oral. Às vezes é necessário a utilização de nutrição parenteral (com fluidos especiais por uma veia central). A reposição agressiva de líquidos e o controle dos eletrólitos são fundamentais. Os antibióticos são utilizados quando o paciente apresenta sinais de infecção ou de necrose séptica na tomografia. Em alguns casos o paciente pode apresentar choque, falência respiratória (podendo depender de respiradores), falência renal (podendo depender de hemodiálise) e falência múltipla dos órgãos.
A CPRE (colangiopancreatografia endoscópica retrógrada) pode ser indicada nas pancreatites graves associadas à obstrução das vias biliares, onde o paciente não está apresentando melhora e há sinais de colangite aguda (infecção das vias biliares).
A cirurgia tem sua indicação muito restrita aos casos de infecções e abscessos pancreáticos, quando há necrose pancreática infectada e mais tardiamente no tratamento dos pseudocistos que não são absorvidos espontaneamente e causam sintomas importantes. Nas pancreatites crônicas há alguns procedimentos cirúrgicos para o tratamento da dor crônica, com benefício discutível.
Punção por agulha guiada por tomografia é muito útil na orientação da indicação e escolha de antibióticos.