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Você esta lendo: Cirurgia para o refluxo gastroesofágico
Você esta lendo: Cirurgia para o refluxo gastroesofágico
A cirurgia para tratamento da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é o procedimento que corrige a hérnia de hiato, quando presente, reposicionando a transição esofagogástrica na cavidade abdominal, logo abaixo do diafragma e confecciona uma espécie de válvula anti-refluxo, com o próprio estômago do paciente, suturando-o ao redor do esôfago.
Não é necessária a colocação de nenhum material especial no paciente, como próteses, por exemplo. Nesta cirurgia usamos apenas fios cirúrgicos.
Vou tentar detalhar um pouco mais a cirurgia, mas antes quero que você entenda um pouco sobre a anatomia desta região e o que é uma hérnia de hiato, observando as duas ilustrações abaixo. Temos na primeira a situação anatômica normal e na segunda a presença da hérnia de hiato:
O tórax e o mediastino são separados do abdome por uma estrutura fibromuscular chamada de diafragma. O hiato diafragmático é o orifício ou abertura do diafragma por onde passa o esôfago. A transição esofagogástrica normalmente se situa imediatamente abaixo do diafragma e, quando esta está posicionada acima dele, estamos diante da hérnia de hiato.
Veja novamente as ilustrações acima e apenas depois disso, continue. Se você ainda não leu a minha publicação sobre doença do refluxo gastroesofágico aqui no site, também sugiro que o faça agora, clicando aqui.
Finalmente, acompanhe nas próximas três imagens, a descrição resumida das principais etapas da cirurgia:
A cirurgia é realizada por videolaparoscopia, sob anestesia geral e o procedimento demora em média, uns 30 ou 40 minutos. São realizadas cinco incisões no abdome, sendo duas de 10 mm e três de 5 mm. Não haverá necessidade de retirar pontos, porque não há pontos externos. Normalmente o tempo de internação é de menos de 24 horas e o paciente receberá uma dieta específica durante um mês.
Na primeira semana o paciente receberá apenas líquidos, na segunda semana poderá se alimentar de alimentos mais pastosos e assim vai evoluindo na consistência dos alimentos, semana a semana, até poder “comer de tudo” quando terminar o primeiro mês.
Do ponto de vista dietético, o mais importante a ser dito é que o paciente tem que aprender a comer mais lentamente e em porções menores. Ninguém está falando aqui que o paciente comerá menos, na realidade pode comer a mesma quantidade de antes, mas numa dieta fracionada em mais refeições diárias.
Com esta mudança de hábito alimentar, o paciente pode acabar perdendo bastante peso no pós-operatório imediato, mas acaba retornando ao peso habitual, depois que ele passa a fazer uso dos alimentos que fazia antes. Você receberá a dieta de forma detalhada quando receber alta hospitalar.
Deve-se ficar claro aqui, que esta cirurgia não é realizada com o intuito de perder peso, como as gastroplastias, por exemplo, mas muitos pacientes se aproveitam do fato de terem operado para iniciarem uma nova etapa da vida, muitos deles tendo sucesso na manutenção de um peso menor do que tinham antes da cirurgia.
Há necessidade de um tempo de repouso depois da cirurgia, lógico, mas habitualmente os paciente retornam depois de 15 dias às suas atividades rotineiras. O principal motivo para o afastamento é, na verdade, a necessidade de um tempo de adaptação à dieta e nem tanto pela questão física.
O paciente já fica muito bem disposto logo nos primeiros dias da cirurgia e terá apenas aqueles incômodos comuns a qualquer laparoscopia, que são a sensação de estufamento no abdome e que normalmente dura uns 3 dias e um certo desconforto nas costas e nos ombros, que geralmente dura um ou dois dias. Atividade física vigorosa, como futebol ou musculação, por exemplo, só será permitida depois de dois meses de pós-operatório.
A principal dificuldade do paciente é a adaptação à dieta. Na primeira semana é absolutamente comum que o paciente tenha dificuldade para engolir os alimentos, razão pela qual, liberamos apenas alimentos líquidos. Também pode haver soluços, dor no peito e salivação, principalmente se o paciente não segue a orientação dietética e come rapidamente.
Fazemos a cirurgia para o refluxo para evitar o refluxo de ácido do estômago para o esôfago, certo? Ok, mas com isso acontece um efeito colateral bem conhecido, que é o aumento do meteorismo e, que nada mais é, do que o acúmulo de gases no abdome, causando desconforto e, eventualmente, dor.
Isso acontece por que a maior parte dos gases que estão no nosso abdome são ingeridos por nós, quando falamos e nos alimentamos e a maior parte desses gases é expelida do organismo pela eructação (arrotos).
Quando o paciente é submetido à cirurgia para o tratamento do refluxo gastroesofágico, há nas primeiras semanas uma certa dificuldade em arrotar, causada pela válvula que foi feita com o estômago e com isso mais gases se acumulam nos intestinos. Se quiser entender um pouquinho mais sobre esta história dos gases, clique aqui.
O problema é que pacientes ansiosos têm muito frequentemente o que chamamos de aerofagia, que nada mais é do que uma tendência a engolir ar, com muita facilidade. Por isso esses pacientes comumente sofrem de meteorismo, o que acaba piorando depois da cirurgia.
A cirurgia tem indicação quando o paciente não se adapta às medidas comportamentais e aos medicamentos ou quando não se obtém o desaparecimento dos sintomas e da inflamação no esôfago e na laringe.
A presença da hérnia de hiato e do alargamento do hiato são fatores que corroboram com a indicação cirúrgica, mas deve-se avaliar caso a caso. Se o paciente é muito jovem, com longa expectativa de vida pela frente ou quando este não consegue arcar com os custos do tratamento, a cirurgia deve ser considerada.
Leia mais matérias sobre refluxo gastroesofágico no nosso blog, clicando nos links abaixo:
Link 1 – Você sabia que quase 20% da população sofre de refluxo?
Link 2 – É tosse ou refluxo?
Link 3 – Esôfago de Barrett